Eles sabem tudo. Será?

Eles sabem tudo. Será?

Nunca os adolescentes foram tão bem 
informados sobre sexo. Mas nem sempre
eles levam a teoria à prática

Angélica Oliveira

 

Bruno Schultze

Há uma notícia ótima no campo do comportamento: pesquisas mostram que, quando os jovens de hoje vão fazer a iniciação sexual, já conhecem bem a teoria. A geração atual – principalmente os adolescentes das classes A e B – é provavelmente a mais bem informada sobre sexo em todos os tempos. Ela lê a respeito do assunto em revistas, suplementos de jornais e livros educacionais. Assiste a programas de TV que tiram dúvidas sobre sexo. Tem à disposição vários sites da internet que respondem a perguntas relativas ao tema. Por fim, a educação sexual já é obrigatória na maioria das escolas particulares e começa a se espalhar também pelo ensino público. Infelizmente, há uma notícia ruim, que é dada pelo psiquiatra paulista Jairo Bouer, referência da juventude quando o assunto é sexo.


"Eles não conseguem processar toda essa massa de informações e, na hora H, fazem quase tantas burradas quanto a geração anterior." Ele quer dizer que tanta teoria não se traduz necessariamente numa prática mais cuidadosa. O índice de gravidez na adolescência ainda cresce no país. E o uso de camisinha é abaixo do esperado, apesar de todas as campanhas de instituições públicas e privadas.

Quais as razões dessa distância entre a teoria e a prática? A primeira delas é óbvia: sexo não é só uma questão de informação, mas também de maturidade. É fundamental o adolescente conversar de maneira franca com quem está próximo a ele e pode passar a própria experiência sobre o assunto – ou seja, os pais. "Por incrível que pareça, a maioria das famílias se esquiva de falar de sexo com o jovem porque acha que pode deixar tudo nas mãos da escola", opina a psicóloga Helena Lima, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. A questão, no entanto, é complicada. A maioria dos adolescentes não quer escutar sermão dos pais sobre o assunto. E, mesmo que a conversa não seja em tom de bronca, não se terá jamais a garantia de que o diálogo surtirá o efeito desejado. Uma garota que tem um relacionamento franco com os pais pode, numa relação sexual com o namorado, sentir vergonha de tirar a camisinha da bolsa.

Outra questão é como falar a linguagem do jovem. O grosso das campanhas e dos programas de ensino, segundo os especialistas, fracassa justamente nesse ponto. "A maior parte das escolas recorre a palestras, e elas são chatas", avalia a médica Albertina Duarte Takiuti, do Hospital das Clínicas de São Paulo. "Se forem inevitáveis, que sejam curtas e dinâmicas." Idéias não faltam. Que sejam postas em prática. É uma vergonha o adolescente brasileiro ser reprovado numa matéria que conhece tão bem. Em teoria, pelo menos.